Grupo Lanteri, sinônimo de teatro popular
A Associação Cultural Lanteri há mais de 40 anos ocupa lugar de destaque no cenário cultural da grande Curitiba pela qualidade do seu trabalho e de suas propostas inusitadas, levando cultura à grande massa popular. Desde sua origem o grupo mantém como característica principal “o teatro feito pelo povo para o povo”. Seus integrantes são voluntários, pessoas de todas as idades, religiões e classes sociais.
A qualidade artística oferecida pelo Grupo Lanteri e a dedicação de seus inúmeros participantes cria uma relação íntima entre espectador e espetáculo, fato que se repete todos os anos. E esta identificação público-espetáculo faz com que sempre novos integrantes queiram fazer parte do Grupo Lanteri.
Grupo Lanteri: a essência do teatro popular
O Grupo Lanteri é hoje um dos maiores grupos de teatro do país. Suas produções envolvem centenas de atores amadores que anualmente participam de diversos espetáculos, tais como: “A Paixão de Cristo”, “Auto de Natal”, “Júlio César”, “Auto de São Francisco”, “Cenas da Pátria Brasileira”, entre outras.
O Início
Tudo começou em fevereiro de 1978, na Paróquia São Paulo Apóstolo, localizada na Vila São Paulo, de um bairro da periferia de Curitiba. O ator e diretor Aparecido Massi, que coordenava um grupo de teatro amador da paróquia, resolveu montar naquele ano a “Paixão de Cristo”, para encená-la nas ruas do bairro.
O primeiro passo foi reunir o elenco. Então, Massi, com o auxílio de quatro amigos, saiu pelas ruas do bairro à procura de atores amadores e, poucos dias depois, conseguiu atrair 40 jovens para a encenação. Depois do elenco estar pronto, era a vez de arrumar os figurinos e novamente a solidariedade e a criatividade foram primordiais. Com dinheiro emprestado e com o envolvimento dos parentes dos novos “atores”, Massi montou um figurino reciclável que serviria não somente para a “Paixão de Cristo”, mas para qualquer outra peça teatral que o grupo viesse a realizar.
Desta forma, com inúmeras dificuldades, mas, acima de tudo com muita dedicação é que foi criado o espetáculo “Vida, Paixão e Morte de Jesus Cristo”, que hoje é tradicional na capital paranaense e que se tornou o cartão de visita do grupo.
Para pagar o que devia, o grupo montou uma peça chamada ”Regresso”, que foi apresentada em diversos bairros e municípios vizinhos. Além de conseguir sanar a dívida, o figurino foi ampliado para o ano seguinte.
A partir disso, outras surpresas aconteceram. O elenco aumentou para 90 integrantes, com a participação de “atores” de outras paróquias da região e o aparecimento de um envelope misterioso com uma doação anônima, que serviu para aumentar o figurino.
No início, figurinos e cenários eram feitos por colaboradores do grupo, inclusive as crianças também participavam. Todo trabalho era realizado da forma mais artesanal possível, descobrindo-se entre os integrantes, excelentes sapateiros, desenhistas, artesãos, enfim, verdadeiros artistas.
O Sucesso
Com o sucesso das apresentações, o prefeito de Curitiba, da época, convidou o Grupo Lanteri para apresentar seu trabalho à Fundação Cultural de Curitiba. Rafael Greca, então diretor da Casa da Memória, contratou o grupo para apresentar o espetáculo da “Paixão de Cristo” no centro histórico da cidade, no Largo da Ordem. Acompanhados pela Camerata Antiqua de Curitiba, sob a regência do maestro Roberto de Regina e pela soprano Fátima Alegria, do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o Lanteri — com 150 integrantes — “tomou conta” do centro histórico de Curitiba.
Assim o grupo foi crescendo, fez sua primeira produção infantil chamada “Em Algum Lugar…”, que abordava o tema da poluição ambiental. Em janeiro de 1981, Massi e sua equipe pesquisavam a melhor forma de mostrar seus espetáculos, melhorando a qualidade das apresentações sem, no entanto, desviar de sua proposta inicial: o caráter popular. Assim, com o apoio de órgãos públicos e privados, conseguiram o apoio necessário para o crescimento do grupo que, três anos depois, em 1984, já contava com aproximadamente 400 integrantes no seu elenco, apresentando-se não só em Curitiba, mas em cidades vizinhas como Piraquara, Colombo, São José dos Pinhais e Araucária.
Entre 1985 e 1988, o Grupo Lanteri já contava com uma infraestrutura profissional de som e iluminação. Suas apresentações mudaram de endereço e passaram do Largo da Ordem ao Centro Cívico. Os figurinos, agora para as 400 pessoas, continuavam sendo feitos por um núcleo de costureiras do grupo, sempre reaproveitando o material de outras encenações.
Em 1989, o Lanteri volta ao setor histórico da cidade. Desta vez, ao contrário dos anos anteriores, o grupo enfrentou o primeiro problema desde o início de suas apresentações: o Largo da Ordem não tinha espaço físico para comportar as encenações do grupo que, no ano anterior tinha completado 10 anos de existência, e contava com um prestígio muito grande junto à população. Foi então que, em 1991, o Grupo Lanteri foi convidado a inaugurar o maior espaço ao ar livre de Curitiba para shows, a Pedreira Paulo Leminski, com capacidade para mais de 30 mil pessoas.
Algumas Mudanças
Para esta apresentação, algumas modificações foram necessárias, como a pré-gravação em estúdio de todo o espetáculo, com a inserção de uma trilha sonora, possibilitando maior ambientação e principalmente evitando que o público deixasse de ouvir todo o espetáculo.
Outra grande alteração foi em relação aos figurinos e cenários. As roupas tiveram que passar por uma reformulação de tamanhos e cores, visto que o público agora estaria assistindo a uma distância maior. O mesmo se aplicou aos cenários. O elenco também teria que ser aumentado. Os 400 intergrantes passaram a 1.000 que, somados à equipe técnica chegam hoje a um total de 1.200 pessoas envolvidas em cada grande espetáculo do Lanteri.
Desde então o trabalho do grupo é o de se aperfeiçoar cada vez mais. Aulas de equitação, de dublagem, pesquisa de texto, entre outras atividades, fazem parte do currículo dos integrantes da Associação Cultural Lanteri.
Em 1992, o Grupo Lanteri resolveu ousar novamente e montou uma apresentação ao ar livre, inédita até então, adaptação da peça “Julio César”, de William Shakespeare, especialmente para o “Fórum das Cidades”, evento que reuniu governantes de vários países. Para tal, utilizou o espaço da Pedreira Paulo Leminski, na sua totalidade, realizando até batalhas entre legiões romanas.
O Trabalho Continua
Nos anos seguintes, o Grupo apresentou inúmeros “Autos de Natal” em vários locais da cidade, como terminais de ônibus, Ruas da Cidadania, praças, e também em outras cidades como Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Colombo, Foz do Iguaçu, Lapa, Piraquara, São José dos Pinhais, Rio Branco do Sul e Rio Negro. Também montou peças teatrais sobre temas diversos, como: História de São Francisco, Auto de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, História do centenário da Arquidiocese de Curitiba.
Hoje o tradicional Grupo Lanteri é o sinônimo de teatro popular paranaense. Suas encenações, a maior parte patrocinada pela Prefeitura de Curitiba, já fazem parte do calendário turístico da cidade e do estado. Mesmo com tantos anos de estrada o GrupoLanteri nem pensa em parar, pois muitos capítulos desta história ainda serão escritos e contados por todas estas pessoas do povo, que fazem o teatro para seu o povo.